A caminho do esquecimento

23 11 2008

por Marcela Cataldi Cipolla

O Jornal Nacional começou a reportagem sobre o filme que aparece o segundo homem da organização terrorista Al Qaeda, o egípcio Aiman Al-Zawari, comentando sobre o presidente eleito Barack Obama da seguinte forma:

“A rede terrorista Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, fez um ataque pesado a Barack Obama. Por enquanto, com palavras.” Veja o vídeo no site:

reportagem do JN

O texto foi conclusivo e quase ameaçador, o telejornal poderia ter transmitido partes do vídeo para o telespectador. O público que assistiu o programa não ficou sabendo, por exemplo, que Al-Zawari considerou a eleição de Obama um reconhecimento do povo americano da derrota no Iraque, ou que ele afirmou que o Bush está deixando para seu sucessor uma situação difícil, ou ainda que Zawari crê que os americanos se mostraram temerosos de eleger alguém como Bush, por isso, optaram por quem queria trazer de volta as tropas do Iraque. Além disso, no vídeo, ele citou e colocou imagens de Malcom X discursando.

O egípcio, ainda, condenou duramente a possibilidade de enviar as tropas do Iraque para o Afeganistão. Ele afirmou que todos os que apoiaram a invasão do Afeganistão não conhecem a história desse povo e de outros que seguem o islamismo. E,  também se posicionou contra as declarações que Obama fez sobre as relações que irá manter com o Irã.

É marcante como a rede Globo suprimiu a notícia que o membro da Al-Qaeda lembrou. Ele revelou que há alguns dias, 40 pessoas morreram em uma festa de casamento em Kandahar (Afeganistão). Zawari denunciou o assassinato de civis no Afeganistão e acusou as tropas americanas que invadiram e ainda ocupam o país.

Ao assistir a gravação fica evidente (especialmente no final) que Aiman estimulou assasinatos e ataques suicidas. Ele disse claramente que a cruzada islã não tinha acabado e que os mujahedeens deviam se empenhar na Jihad, o líder fundamentalista chegou a afirmar “não coloquem suas armas no chão” e convocou grupos terroristas da Etiópia e da Somália (o que também não foi abordado no Jornal Nacional).

Mas, resumir o filme como a equipe de jornalismo da emissora fez é descontextualizar e mostrar só um lado da guerra. Afinal, todo combate armado é feito por terroristas. Por que as mortes em Kandahar são menos desprezíveis para a mídia? Ou melhor, Por que são esquecidas?

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