por Marcela Cataldi Cipolla
Guerra no Congo, mais um conflito em solo africano pouco discutido, por quê?
“ONU acusa militares do Congo de saques e violência sexual
Nações Unidas pedem mais 3 mil soldados para força de paz; existem dez soldados para cada 10 mil habitantes
Agências internacionais
GOMA, Congo – Centenas de soldados do Exército do Congo destruíram vários vilarejos, estupraram mulheres e saquearam casas enquanto fugiram da ofensiva rebelde no país, afirmou a ONU nesta quarta-feira, 12. Segundo a BBC, o subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para Operações de Paz, o francês Alain Le Roy, pediu formalmente um contingente extra de 3 mil soldados para o conflito no país africano.”
extraído do jornal O Estado de São Paulo
Há cerca de um ano escrevi sobre a (falta de) abordagem dos conflitos africanos na grande mídia ocidental, e, conseqüentemente, nos veículos brasileiros. Na época afirmei:
“A divulgação de notícias e imagens dos conflitos africanos é feita de modo bastante particular, talvez porque os próprios conflitos no continente sejam vistos de um modo único, o fato é que as guerras africanas são pouco comentadas e raramente são motivos de espanto e mobilização efetiva da opinião pública.”
E tentei fazer uma reflexão, afinal, por que não damos atenção aos conflitos africanos? Tentei pensar alguns elementos que poderiam esclarecer as razões de tamanho descaso:
“Um dos motivos pode ser explicado através de uma declaração feita no documentário screamers, da diretora Carla Garapedian. Uma autoridade dos EUA afirmou que muitos cidadãos americanos viam na televisão cenas do confronto entre Hutus e Tutsis, em Ruanda, durante a guerra civil, e se sensibilizavam, mas não tomavam nenhuma atitude, pois, os americanos não se identificavam com aquelas imagens. Para ele, nos conflitos da península balcânica existe uma maior assimilação do povo americano, afinal, são mulheres saindo de casa para trabalhar, passear, levar os filhos na escola, usando sapatos de salto altos e de repente explodem bombas perto delas, como nas filmagens da guerra da Bósnia em 1992. segundo essa teoria, os americanos se viam naquelas situações cotidianas muito mais do que nas paisagens africanas.”
Outro possível motivo que levantei foi: “As agências de notícias destacam conflitos em locais com atrativos econômicos (golfo Pérsico e Mesopotâmia), interesses políticos, ou que de alguma maneira se relacionam as grandes potências (EUA, Europa Ocidental, Japão..) e acabam dando pouco destaque a genocídios como o de Darfur, no Sudão. Por exemplo, agências de notícias como a Reuters, a France Press e a BBC, que são fontes de informações e imagens para quase todos as nações, priorizam notícias que interessam seu país sede ou suas relações.”
E, hoje, me pergunto, de novo, por que nós damos tão pouca atenção para a guerra no Congo? por que quase não existem correspondentes internacionais na África? Por que não há comoção nacional?
Talvez porque ao contrário das guerras travadas pelos americanos, não há soldados dos EUA ou dólares de contribuintes daquele país gastos em armas… Ou porque não existe um vilão, um invasor… Em que Consulado os jovens fariam um protesto? Como aquele que os brasileiros fizeram na embaixada americana no início da guerra contra o Iraque?
Ou será um eterno conformismo? A passividade em relação aos constantes embates armados na África?
São apenas algumas reflexões, algumas radicais, outras nem tanto. Esse exercício foi bastante interessante para mim (como uma futura jornalista), achei construtivo observar e tentar repensar a situação de marginalização de um continente por meio da mídia. A imprensa reflete um comportamento da sociedade e, ao mesmo tempo, garante a manutenção desse comportamento.
Finalmente, decidi, num post com um enfoque tão particular, inserir fotografias de John Rankin, o fotógrafo sempre esteve relacionado ao mundo da moda, talvez por isso, conseguiu uma perspectiva diferenciada dos refugiados da guerra do Congo. É possível pensar na obra de Rankin como inovadora, não apenas porque ele retratou cenas tão ignoradas pelos meios de comunicação. As imagens transmitem esperança, tratam aqueles refugiados com bastante dignidade e estabelece uma relação de simpatia e afeição, a compaixão é aguçada de modo muito menos intenso que o comum nesse tipo de fotografia, mas isso são apenas impressões pessoais…
Saiba Mais:
Cobertura da guerra do Congo pelo Estado de São Paulo
Todas as fotografias e as legendas foram retiradas do site da BBC
A Não Cobertura do Jornal Nacional
O principal telejornal do Brasil não divulgou informações sobre o conflito africano. Parece que a equipe de Jornalismo do programa deu prioridade para outras pautas, como essa:
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